RIO - Cauã Reymond acha graça quando uma senhora o aborda e diz que o papel de gay não "assenta" com ele. Ela se refere a Halley, personagem do ator em "A favorita", golpista cheio de carisma, mas capaz de tudo para se dar bem na vida sem trabalhar: até se passar por homossexual, embora seu maior interesse na vida sejam as mulheres. Apesar de se concentrar nas instruções da fotógrafa da Revista da TV enquanto posa numa movimentada rua do Leblon - do outro lado da rua um paparazzi fotografa a cena -, Cauã corresponde ao assédio dos fãs com simpatia. O ator só não nota que a mesma mulher do comentário acima também registra o inesperado encontro com o celular e diz o quanto ele é bonito. Objeto do desejo de mulheres e homens no horário nobre - onde vive seu papel de maior destaque na TV - Cauã tem se preocupado em mostrar que, no caso dele, a beleza é só complemento.
" Ainda não acredito que tenha rompido completamente o preconceito "
- Mas ainda não acredito que tenha rompido completamente o preconceito - admite o ator, ex-modelo que estreou na TV em 2002 como o fortão e burrinho Maumau, em "Malhação". - No começo as pessoas deviam me olhar e falar: "Nossa, como esse garoto novo é ruim". É muito difícil entrar bem em "Malhação". Depois de um ano é que você avalia: essa pessoa pegou o jeito ou não - acredita o ator, de 28 anos.
Cinco novelas depois, Cauã garante ter encontrado facilmente o tom de Halley. E acha que as pessoas já entenderam que o personagem é diferente do garoto de programa Mateus, que acabou em Paris com a vilã Bia Falcão (Fernanda Montenegro), em "Belíssima".
- Os dois têm esse lado sensual, mas não são iguais - afirma Cauã, que não quer ficar marcado pelo tipo malandro na TV. - Não pretendo interpretar outro cafajeste tão cedo depois do Halley - anuncia.
O personagem é um malandrão pago pela tresloucada Alícia (Taís Araújo) para se passar pelo riquinho Bruno Aguiar e fingir que o milionário é gay. A farsa fez Cauã se equilibrar em cima de saltos e rebolar dentro de calças justas, de forma bem caricata, sem a preocupação do politicamente correto.
" Todos os meus amigos gays, que não são poucos, adoram o Halley "
- Ele acha que é malandro, mas se enrola. Halley não gosta de fingir que é gay e volta a ser "bofão" mesmo com aquela roupa. O texto do João Emanuel Carneiro é muito engraçado. É uma sátira que ajuda a acabar com a hipocrisia. Todos os meus amigos gays, que não são poucos, adoram o Halley - garante o ator, com calos nos pés por causa do scarpin que usa em cena.
Feito de gato e sapato por Alícia, Halley já "deu pinta" com um par de brinco de pérolas, cordão do tipo coleira e camisetas coladas.
- A Grazi ( Grazielli Massafera, namorada do ator) foi me visitar no estúdio e disse: "Nossa, amor, até de mulher você ficou gato" - diverte-se o ator, que jura não se levar muito a sério.
Cauã diz ter dado risada quando sua empregada fixou na geladeira uma foto em que ele aparecia travestido como a cantora Courtney Love, ao lado da manchete: "Cauã tem seu dia de Grazi".
- Eu venho me construindo para ser uma pessoa mais lúcida, menos preconceituosa e a análise me trouxe uma liberdade, um humor. Eu ainda me considero uma pessoa dura, por causa da luta ( ele é faixa preta em jiu-jítsu), mas comecei a rir de mim mesmo - revela o ator, que começou a fazer análise aos 14 anos e já passou por vários tipos de terapia.
Quem trabalha com ele confirma sua fama de bem-humorado. Colega de Cauã em "Belíssima" e "Eterna magia", a veterana Irene Ravache diz que o ator é "uma delícia de companheiro".
- O sucesso do Cauã não é oportunista, mas uma conseqüência do trabalho dele, que evolui a cada novela. Ele tem um recado a mais a dar e uma seriedade no que faz. Não está na TV só porque é bonito - afirma a atriz.
Mas a beleza não é desprezada, claro. Menos forte do que aparenta na TV, Cauã diz que se cuida, sem neuras. E define o tamanho da sua vaidade:
- Tenho os melhores protetores solares porque pego onda. E me sinto bem malhando. Minha vaidade é por saúde. Tomo vitaminas, floral e suco de luz - lista o ator, para desespero de sua assessora de imprensa, que fica apreensiva com a declaração. Cauã não liga: - Também tenho uma hortinha em casa. Tem gente que tem a vaidade de dizer que leu autores difíceis, a minha vaidade é cuidar da saúde - reforça.
O ator diz não se preocupar em usar pouca roupa em "A favorita". O Mateus de "Belíssima" também costumava surgir na tela só de cueca vermelha.
- Fui modelo e não tenho problema em trabalhar com sensualidade - explica.
Esta semana, as cenas de Halley não terão este tipo de apelo. Ele será preso e depois voltará para a casa da mãe, que é cafetina. Alvo das investidas do playboy Orlandinho (Iran Malfitano), o malandro terá uma virada mais adiante ao se envolver com Lara (Mariana Ximenes) e Maria do Céu (Deborah Secco). Mas ele não perderá o ar cômico.
- Halley vive o momento - resume Cauã.
Um comentário:
gostei da intrevista! bjss
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