domingo, 15 de agosto de 2010

Cauã Reymond vence preconceito e vira a aposta do cinema comercial e autoral






Cauã Reymond está em quatro novos longas, entre eles 'Não se pode viver sem amor'

RIO - Passou de flerte a namoro sério a relação do cinema brasileiro com Cauã Reymond, cujo currículo agora ostenta quatro longas-metragens inéditos, para estrear até 2011. "Não se pode viver sem amor", de Jorge Durán, "Meu país", de André Ristum, "Reis e ratos", de Mauro Lima, e "Estamos juntos", de Toni Venturi, podem garantir ao ator carioca de 30 anos uma permanência em circuito invejável até para os bichos de cinema mais prolíficos do audiovisual no país. Sem contar que ele está na mira de produtores e diretores de todas as vertentes estéticas do país: do jardim dos blockbusters à horta do baixo orçamento, todos o querem.



- Queremos Cauã para "O terrorista", um filme que passa pela ditadura militar na história de um jovem atrás de um pai. Ainda não sei quem será o diretor, mas, como ator, eu espero ter Cauã. Ele não tem uma fisionomia marcada desta ou daquela época. E tem talento. - diz o produtor Marcos Didonet, da Total Filmes, responsável pelo maior sucesso de público da Retomada: "Se eu fosse você 2".



Ao pensar em um nome para estrelar a coprodução chilena "Romance policial", Jorge Durán só pensa em Cauã.



- Se eu tiver que segurar a produção alguns meses para poder ter o Cauã, eu vou esperá-lo. Disciplinado, ele é um ator capaz de ficar ligado, num set, durante as 12 horas em que a diária de uma filmagem dura, mesmo sem cena para rodar - diz Durán.



Ícone do chamado "cinema de invenção", Carlos Reichenbach, o Carlão, que fez Cauã cantar em "Falsa loura" (2007), lamenta não ter um papel para ele em seu novo longa: "O anjo desarticulado".





- É um filme para personagens de 60, 65 anos. Mas quando há um papel jovem que exija desafios é em Cauã que eu penso - diz Carlão. - Ele é o ator brasileiro mais próximo do Leonardo DiCaprio. E quem viu o deslumbrante "A origem", sabe que estou fazendo um elogio a ele. Cauã nunca havia cantado antes de "Falsa loura", mas me convenceu a cometer tal ousadia. Não me arrependi dela.



De braços dados com o perigo em "Passione", novela das 21h, de Silvio de Abreu, na qual seu personagem, o ciclista Danilo, vai se afogando nas drogas capítulo a capítulo, Cauã penou para conquistar o cinema. Suou para provar que sua aproximação com as telas não era o desejo oportunista de um galã marombado para angariar prestígio. Até porque, no teatro, ao alternar com Caio Blat um dos papéis mais difíceis da peça "Essa nossa juventude", de Kenneth Lonergan, encenada pela atriz Maria Luiza Mendonça em 2006, ele conquistou respeito de sobra para afagar seu ego. Mas fazer cinema para ele não é vaidade. É devoção.



- No ano passado, quando "À deriva", do Heitor Dhalia, foi para Cannes, eu sabia que o mais interessante para o festival era ter o Vincent Cassel e a Débora Bloch, os protagonistas. Eu fazia uma pontinha. Mesmo assim, eu resolvi pagar a passagem e ir para lá, pela curiosidade de estar no maior festival de cinema do mundo e ver atores que conseguem viver só de cinema. Fiz coisa parecida com "Se nada mais der certo", do José Eduardo Belmonte (longa que deu a Reymond o prêmio de melhor ator no Cine Ceará em 2009). Aproveitei para viajar com o filme por todos os festivais e adquirir mais consciência. Eu estou no começo. E, no começo, você não pode escolher muito. Mas pode buscar dar cores diferentes às oportunidades que te dão. Principalmente quando você passa por diretores que estão no set presentes para criar - diz Cauã, casado com a modelo, atriz e ex-BBB Grazi Massafera.



Hoje, ele é respeitado por atores que lotam cinemas, como Tony Ramos.



- É bacana ver na turma nova um ator consciente de seu espaço, dos percalços da profissão e da necessidade de se manter nos estudos à cata de novos caminhos. Cauã é um ator desses - endossa Tony Ramos, o Totó de "Passione". - Desde a novela "A favorita", ele deixou claro que está numa busca por um tipo de representação em que transparece a construção do personagem. Admiro esse menino por sua perseverança.




Jogador de RPG (sigla para roleplaying game ou jogo de personificação, termo por vezes confundido com a técnica de correção postural homônima), daqueles de virar madrugada combatendo monstros em campanhas de "Advanced Dungeons & Dragons", Cauã brincou de interpretar representando heróis de capa & espada com os amigos.



- É estranho hoje ver pessoas me associando a esporte. Eu era um garoto que jogava bola mal. Quando moleque, eu jogava bem era "D&D", "Gurps" e os RPGs todos. Ali começou a minha relação com a dramaturgia. Ali e com os quadrinhos, sendo que eu me fascinava pelos heróis atormentados, como o Demolidor - diz o ator, que admite ter sofrido o preconceito antigalã. - Quando você atua em "Malhação", como eu atuei, e passa por atores mais velhos, muitos não te dão nem "Oi!". Mas, tudo bem! Jogador tem que fazer gol para ser escalado. E não é só isso. O preconceito pode te deixar mais forte. Ele te deixa atento para saber mostrar aos que fazem cinema que você é capaz de render outras coisas além daquilo que esperam a partir da sua experiência em TV.



Recém-saído do 38 Festival de Gramado, onde "Não se pode viver sem amor" disputou o Kikito de melhor filme, Cauã participou de nove longas desde 2004, quando debutou na telona com "Ódiquê", do diretor Felipe Joffily. Ali, ele encarnou o arquétipo do pitboy carioca. Era um risco: na TV, ele já vinha se ligando a papéis no qual o tipo físico interessava mais do que a inteligência cênica.



- Cauã me convenceu a participar de "Ódiquê" quando ninguém acreditava nele. Na leitura e numa conversa, ele me ganhou - diz Felipe Joffily. - Dei sorte de ter percebido seu esforço. Hoje, eu ganho credibilidade por ter sido o cara que apostou no Cauã jovem e o deixou expor seu talento.
 
OGLOBO

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