quarta-feira, 4 de agosto de 2010

           Um novo olhar




Bonito e famoso, ele já é desde os 20 e poucos anos. Aqui, o ator aproveita a chegada aos 30 para contar o que mudou em sua relação com o trabalho, a astrologia, o corpo e o amor


Cauã Reymond chega esbaforido e pede desculpa pelo atraso de 20 minutos. Conta que o carro ficou sem bateria e o deixou a pé no meio do condomínio em que mora com a mulher, a atriz Grazi Massafera, e sete bichos de estimação (três gatos e quatro cachorros) em Itanhangá, zona oeste do Rio. “Tive de voltar para casa e vir com o carro da Grazi”, diz o ator. Aos poucos, ele deixa de lado a chateação, o papo começa a fluir e surge um cara sereno.

Com 30 anos de idade (completados em maio), Cauã falou sobre amadurecimento pessoal e profissional e também sobre casamento, drogas, aborto, sucesso e astrologia. A conversa foi em uma casa de sucos na Barra da Tijuca escolhida pelo ator. Na parede, há uma fotografia de Cauã surfando no Havaí, autografada por ele, que se imagina pegando onda até ficar velhinho.
 
Além de surfista, ele já encarnou vários papéis na vida real: foi nerd, lutador de jiu-jítsu, estudante de psicologia, modelo, galã de novela, astro de cinema e, agora, sonha em ser diretor. Cauã está em uma ótima fase. Quatro filmes em que atuou estão para ser lançados, entre eles Não se Pode Viver Sem Amor, indicado ao prêmio de melhor longa-metragem no Festival de Gramado, que acontece neste mês. Na TV, o ator vive um jovem envolvido com drogas em Passione. E ele conta que já recebeu dois convites para filmar após o fim da novela. Mas, desta vez, vai exigir férias antes de voltar ao set. A maturidade, diz, trouxe dores no corpo, mas também permite ser mais seletivo no trabalho e no amor.




Em que aspectos o Cauã de 20 anos é diferente de você agora, aos 30?



Pô, é tão diferente! Não vai caber na entrevista (risos). Eu sou mais bem-humorado. Se isso (o problema do carro) tivesse acontecido aos 20, eu estaria muito estressado. Agora, é só uma coisa que aconteceu e tenho de resolver. Eu era mais impaciente. Todo jovem ator é angustiado, pois é uma carreira difícil. Eu tinha o sonho de fazer cinema, de participar de uma novela das oito... Graças a Deus, tudo isso vem acontecendo. O Cauã de 30 é mais realizado que o de 20.



Seu temperamento mudou?



Meu temperamento é igual, mas a maturidade traz mais calma. Mas não é só isso... As coisas começam a doer. Quem pratica esportes começa a sentir os efeitos da idade. Meu ombro direito dói, estou com tendinose (processo degenerativo de um tendão).



Como é o seu relacionamento com a sua família hoje?



Tem um diálogo mais aberto, menos oba-oba. Participo de questões mais profundas. Adquiri uma certa estabilidade, o que me permite prestar atenção no que está acontecendo com as outras pessoas da minha família.
Você usava uma aliança para representar a sua ligação com seu irmão (Pavel). Por que não está com ela?




Perdi há duas semanas. Esta é a da Grazi (mostra a mão esquerda). Para gravar, a gente é obrigado a tirar tudo e, nesse processo, eu a perdi. Estou chateado.



Você tem ideia de onde a perdeu?



Acho que foi no meu carro... Seu carro não está dando muita sorte... (risos) Também acho. Vou trocar de carro. Estou com ele há cinco anos.



Você acredita em numerologia, escolhe a placa do carro, essas coisas?



Mais ou menos. Acredito bastante em astrologia. Eu não curtia, mas há uns três, quatro anos, comecei a curtir. Fiz meu mapa astral no começo do retorno de Saturno, achei legal e continuo fazendo, com uma pessoa que minha mãe indicou. Minha mãe é astróloga, mas é como ter pai psicólogo, não dá para ser atendido pelo seu pai.



Como o retorno de Saturno mudou sua vida? Já passou?



Está no finalzinho e mudou muita coisa. Houve uma reviravolta profissional. Filmei muito nos últimos três anos. Fiz A Favorita e, agora, Passione. O Danilo é um personagem forte. As pessoas estão comentando as dificuldades dele com a família, com as drogas...



É difícil interpretar um cara doidão?



Muito difícil porque eu só fumei maconha – e não fumo, só experimentei. Nunca cheirei nada, nem lança-perfume. Sempre fui cagão com isso.



Qual sua opinião sobre a descriminalização da maconha?



Não tenho uma opinião formada. Estou pensando muito sobre isso. É interessante um país organizado pensar sobre esse assunto, mas nós somos tão desorganizados! Vamos ter a Copa do Mundo, a Olimpíada... E, a cada chuva que cai, alguém morre. Tem muitas coisas (no Brasil)
 
Quem consome estimula o tráfico?



Acho que sim. Mas acho que a maconha não pode ser tratada como a cocaína ou o crack.


Na novela, Danilo deixou uma adolescente que ficou grávida dele abortar. Qual sua opinião sobre esse tema?


Eu acho muita hipocrisia a Igreja Católica proibir alguém que foi estuprado de fazer um aborto. Mas eu não deixaria [uma menina que engravidei abortar]. Já passei por situações não tão drásticas, aquela coisa de a camisinha estourar. E sempre estive colado nas meninas. Ninguém engravidou, graças a Deus, mas a pílula do dia seguinte elas tomaram.


Você quer ter filhos logo?


Todas as mães cobram netinhos... A minha também. Tenho um prazo: alguns anos, poucos anos. Vou curtir muito ser pai.


Ainda surfa com seu pai?



Ele veio ao Rio (mora em Florianópolis), e a gente surfou esse sábado. Foi muito legal, apesar de ter vento e chuva. Ele está com 50 anos, mas acho que vai surfar até os 70 e pouco. E eu me vejo dessa forma também.


Você se vê muito nele?


Em muitas coisas, sim. Mas há muitas diferenças também. Tem erros que meus pais cometeram e que não quero cometer e acertos muito bacanas que quero seguir. Quando o pai ama, ele mesmo ajuda a enxergar coisas que fez e não gostaria que você fizesse. Nem sempre gostamos de tudo que vemos em nossos pais. Essa história de família perfeita não existe. Acho que fazer


“Sou taurino. Gosto de chegar em casa e ter alguém”



Faz análise há muito tempo?


Desde os 14 anos. Passei uns três anos morando fora, na Europa e nos Estados Unidos, aí dei uma parada. Quando voltei, retomei. Faço até hoje.


Acha que vai ter alta algum dia?


Eu tenho esperança... (risos) Mas a análise ajuda na minha profissão também para enxergar até onde é você e o que é o personagem, o que você não conhece naquele universo.



Você largou a faculdade de psicologia. O que seria se não fosse ator?


Acho que seria maluco. Não consigo mais me ver fazendo outra coisa. Mas eu era um jovem que, como muitos, não sabia o que queria. Fui fazer psicologia porque meu pai fez. Não era um desejo genuíno.


Na escola, você já era considerado bonitão?


Eu era meio nerd, gostava muito de videogame e de RPG. Quando fui morar com meu pai (aos 15 anos, em Florianópolis), comecei a praticar esportes e aí veio toda uma autoestima. Fui bicampeão brasileiro de jiu-jítsu. Só descobri que levava jeito para ser modelo quando me convidaram. Até então, era um garoto normal. Menina tem mais isso de mudar, né? As mais gostosas na adolescência não são as mais bonitas na fase adulta. E as mais magrinhas, às quais ninguém dá atenção, tipo a Grazi, são as que fazem sucesso depois.
 
Falando em relacionamento amoroso, o que mudou entre seus 20 e 30 anos?




No começo, tinha uma coisa muito estética – ainda mais quando você é modelo, vive ao lado de gente muito linda. Depois, você busca a personalidade. Sempre fui namorador, fiquei solteiro por oito meses, no máximo. Engatei namoros longos, acho que pela sensação de segurança. Sou taurino, gosto de chegar em casa e ter alguém.



Como você se vê aos 40 anos?



Não muito diferente. Vejo um processo natural. Os sonhos vão mudando – tem coisas que você não alcança, mas descobre que não precisa delas. Eu me vejo dirigindo, daqui a pouco vou querer fazer um curta-metragem. E tenho um caderno em que escrevo à noite, às vezes. Há também a possibilidade de escrever [como roteirista].



Você escreve poemas desde menino. Sabe um verso seu de cabeça?



Não, mas, se soubesse, não falaria. Mostro para pouquíssimas pessoas. Tem alguns de que gosto bastante. Quando chegar aos 80, vou ter um livro. E nenhum pudor (risos).



Você foi campeão de cartas da Globo na época de Malhação (Cauã entrou na série em 2002). O sucesso subiu à cabeça em algum momento?



Ah, claro. Pô, você tem 20 anos, as meninas começam a dar mole pra você. Sempre pude namorar mulheres bacanas, mas o volume aumenta, entende? E tem de passar por isso. Se você é muito comedido e se protege de tudo, não vive nada. Se você vive esse momento, também se prepara para o que vem depois.



“Se você se protege de tudo, não vive nada”



E como lida com dinheiro?



É você quem cuida de tudo? Sim. Procuro a ajuda de outras pessoas, mas é olho aberto e faro fino, como dizia o meu avô. Não sou consumista. Sou taurino, acho que tem essa coisa de ser um signo de terra.
 
E tem a ver com as dificuldades que viveu no passado?




Tem. Dificuldades são boas, te deixam mais forte. Em Nova York, vivi com US$ 20 por dia durante dois anos. Eu dava aulas de jiu-jítsu e trabalhava como ajudante no lugar onde estudava [interpretação]. Andava a pé para não gastar com metrô. Muita gente que nasce com mais condições financeiras acaba fazendo o que não quer porque tem dificuldade de escolher. Eu tinha poucas possibilidades, mas escolhi.



O que você aprendeu como modelo?



Pude ser apresentado ao que é de bom gosto – hoje, coleciono livros de fotografia, por exemplo. Esse período também ajudou a formar o meu caráter – quando você é jovem, pode fazer o que quiser, usar a droga que quiser, e eu me preservei bastante. Além disso, aprendi a aceitar o não. Como lutador, se treinasse bem, ganhava. Como modelo, você mostra suas fotos e não necessariamente será convidado para trabalhar.



Você e a Grazi não fazem trabalhos juntos. Por quê?



Para proteger a relação. Já temos tão pouca privacidade! Se precisarmos de dinheiro para algo que fará bem aos dois, pode vir a acontecer. Atualmente, não é o caminho.



Como é a sua relação com a família dela?



Muito boa, meu sogro me ajuda muito com a minha casa. Eu sou um cara criado na cidade. Ele é um mestre de obras e entende de muita coisa de que eu não entendo. Sou muito ignorante no universo dele e aprendo bastante.



E a Grazi tem uma relação legal com a sogra? Sua mãe dá palpite na casa?



Elas se dão bem. Na minha casa, ninguém dá muito pitaco. Acho perigoso quando a família entra no casamento. Aprendi há muito tempo a fazer as coisas do meu jeito e, depois que eu casei, faço junto com a minha mulher.
 
Cauã Reymond é um dos grandes atores de sua geração. Na TV, ele vive Danilo, um rapaz envolvido com drogas em Passione. Além disso, quatro filmes em que atuou serão lançados em breve, sendo que um deles, Não se Pode Viver Sem Amor, foi indicado ao prêmio de melhor longa-metragem no Festival de Gramado, que acontece neste mês.







Neste trecho inédito da entrevista exclusiva que o ator concedeu à revista CRIATIVA de setembro, que chega às bancas a partir de amanhã, ele fala sobre futebol, política, trabalho e vida pessoal – o que inclui, é claro, o casamento com a atriz Grazi Massafera.



CRIATIVA: Você tem time? Gosta de futebol?



Cauã Reymond: Tenho, sou flamenguista. Comecei a gostar de futebol tem uns três anos. Jogo bola mal pra caramba (risos). Fiquei viciado naquele futebolzinho de videogame.



Você é um cara politizado? Já sabe em quem vai votar, por exemplo?



Não sei em quem vou votar, mas sou um cara cada vez mais interessado, sempre antenado. Mas, no Brasil, isso é muito frustrante. Minha frustração é a que todo cidadão tem.




Se tiver que escolher, o cinema, mais que a TV ou o teatro, é a sua paixão?



Eu gosto de tudo que eu faço. No Brasil, o cinema tem uma proporção diferente, a maioria dos meus filmes não foi vista por muita gente. Sei que sou conhecido pelo meu trabalho na TV, o cinema fala com um público específico. Se eu posso trabalhar na televisão, em um veículo que fala com milhões de pessoas todo dia e que me proporciona, de certa forma, estabilidade financeira, no tempo em que não estou na TV, quero trabalhar com outras pessoas. Até para enriquecer o meu trabalho e poder aparecer na TV mais maduro.
Tem algum novo convite para filmar?




O Mario (Canivello, empresário do ator) me falou do Roberto (Farias, cineasta), falou do (Jorge) Duran (cineasta), que também deu uma entrevista sobre o próximo filme dele. São pessoas que eu admiro. Filmei com o Durán há pouco tempo e filmaria com ele de novo agora. Mas eu pediria duas semanas de férias. Da outra vez terminei a novela sexta à noite, fui para a confraternização e dormi tarde. Cinco da manhã de domingo eu estava no set filmando com o Durán.



O que te faz se permitir isso agora?



Tem um momento na vida em que você não pode deixar as oportunidades passarem. Se eu não tivesse filmado com o Durán a primeira vez, provavelmente eu não teria essa nova oportunidade agora. Há momentos em que você tem de entrar mesmo e outros em que já conseguiu certas coisas, as pessoas estão começando a conhecer o seu trabalho e você pode se dar ao direito de se cuidar um pouco mais, até para fazer um melhor trabalho.



Sua mãe ficou grávida de você aos 17 anos. O fato de seus pais serem jovens te aproximou dos seus avós?



Acho que sim. Meus avós preencheram uma figura paternal, porque os meus pais eram muito jovens. Meu pai morava longe e meu avô era a figura masculina de exemplo para mim. Tenho muitas coisas parecidas com ele. Meu avô saiu de casa, na Paraíba, aos 17 anos e conquistou tudo sozinho. Eu saí da casa do meu pai para vir para o Rio ser modelo aos 17.



O que te chamou a atenção na Grazi?



Tudo. O principal é o bom humor, isso é tão importante.



A casa de vocês é quase um zoológico, tem vários bichos...



São sete bichos. Três gatos e quatro cachorros.
 
Você tem um cantinho especial na casa? Um espaço para refletir e ficar sozinho?




Gosto do quarto, do nosso quarto.



Gosta de dar entrevista? É um mal necessário?



Entrevista é quase um processo analítico, não é um mal necessário. Faz parte do meu trabalho, não sofro com isso, não. Se eu sofresse, seria muito triste. Às vezes você fala coisas e só enxerga depois que falou.



Em uma relação em que os dois dão entrevistas, surge um ruído?



A gente lê tudo, mas o bacana é que, com o tempo, isso vai tomando menos espaço na relação. Vai sendo uma coisa do dia a dia, normal. No começo tentamos encontrar homogeneidade, para ninguém fazer uma coisa que magoe ou vá contra o que o outro acredita. Depois de um tempo se torna natural. Tudo vai ficando mais parecido mesmo.



E vai ter cerimônia de casamento? Os dois querem?



Acho que sim. Agora não estão falando muito, mas teve uma época em que comentavam tanto, que falávamos, pô, a gente já está casado. Estamos.
 
Criativa Online

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