terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Cauã Reymond: "Sou lutador. Não amarelo para desafio"

Em entrevista exclusiva ao iG Gente, o ator fala sobre seu polêmico papel em "Passione", Grazi Massafera, Hollywood e um beijo gay





“Às vezes fico com insônia. Quando fazemos um personagem conturbado é normal não dormir bem. Tomo até banho de sal grosso”

Aos 30 anos, Cauã Reymond vive uma das melhores fases da sua carreira. A relação com o cinema passou de flerte para namoro sério – fez quatro longas-metragens com estréia marcada para 2011. Acostumado a viver tipos bem menos complexos em seus trabalhos na TV, o carioca se destaca no elenco de “Passione”, de Silvio de Abreu, vivendo um ciclista profissional que, após usar drogas para melhorar seu desempenho nas pistas, acaba se viciando em crack. Além disso, é casado com a atriz Grazi Massafera, uma das mulheres mais cobiçadas do Brasil. Mais: está escalado para o seu primeiro protagonista na próxima novela das seis, “Pisa na Fulô”.

Qual é o segredo para tanto sucesso? “Eu não amarelo para desafio. Acho que isso é coisa de lutador: se tem um obstáculo, bate um friozinho, mas eu encaro de frente”, explica o ator.

Para entrar no universo do Danilo, seu personagem na novela das oito da Globo, Cauã deu um mergulho no mundo das drogas. Visitou centros de reabilitação e passou uma tarde na cracolândia, em São Paulo. “A sensação que tive era de que o usuário não é o senhor de si mesmo. Acho que a única pessoa sã, naquele lugar, é o traficante. O usuário vira um zumbi. Dorme ao lado de onde defeca”, conta ele, que não se posiciona a favor da legalização das drogas no Brasil. “Falta estrutura”, opina ele.

Foto: Robert Schwenk
"Já recebi convites para trabalhar no exterior, mas achei que não estava preparado como ator. Por enquanto, não pretendo ficar batendo na porta das agências"



CASADO NA VIDA E SEPARADO NO TRABALHO

Avesso a falar sobre a vida pessoal, Cauã tenta se esquivar com delicadeza das perguntas sobre o relacionamento com Grazi Massafera, a quem se refere como sua mulher. “Nós já somos casados, né? Oficializar não é uma obrigatoriedade para mim, mas se acontecer não vou achar ruim. É legal reunir as famílias em prol de uma união. Já filhos, com certeza, vamos ter”, declara. Contracenar com Grazi não está nos planos. “Trabalhar junto em uma novela ou filme é perigoso, porque já estamos todos os dias juntos. A gente até teve alguns convites para campanhas publicitárias, mas preferimos não fazer. Era uma forma de preservar a relação, principalmente no começo”, explica. “Mais para frente, talvez. Se tivermos um filho, não vejo porque não fazer algo juntos.”

Em um dia de folga das gravações de “Passione”, ainda se recuperando da cirurgia no quadril que o obriga a usar bengala, Cauã Reymond recebeu a reportagem do iG Gente para um bate-papo e duas sessões de fotos no Rio. “A fama me seduziu um pouco no começo, passei três meses deslumbrado. Depois passou. Ser um cara avesso a badalações é um traço da minha personalidade, não uma estratégia. Eu sempre fui assim. Por ter sido atleta por muitos anos, eu descobri o prazer em outras coisas”.

Foto: Robert Schwenk
Para sempre magro: “Até agora, tudo que me pediram para fazer por um personagem eu consegui. Mas, depois da cirurgia no quadril, não vou poder engordar para um papel"

Confira abaixo a entrevista completa:

iG Gente -
Como foi a preparação para viver o drogado Danilo em “Passione”?
Cauã Reymond - Foi um desafio enorme, que demandou bastante pesquisa. Na verdade, esse personagem me exigiu duas preparações: uma para a fase ciclista e a outra para o dependente químico. Para tratar o problema das drogas, eu freqüentei reuniões dos narcóticos anônimos, fui a clínicas de reabilitação e passei uma tarde na cracolândia, em São Paulo. Além disso, tenho um psiquiatra, o dr. Márcio Barbeito, para me ajudar nas cenas. Antes de gravar, ensaiamos para ele ver se está de acordo. Até porque é muito difícil encontrar a pessoa no ato da droga.
iG Gente – Você usou algum filme para se inspirar?
Cauã Reymond - Já tinha visto alguns filmes que tratam sobre como a pessoa age quando consome a droga. O “Eu, Christiane F. - 13 Anos, Drogada e Prostituída”, mostra os olhinhos dela virando quando usa heroína. Em “Coisas que perdemos pelo caminho”, o personagem do Benicio Del Toro toma metanfetamina, e “Pulp Fiction” mostra o personagem sob efeito do pó. Mas não tem nenhum filme mostrando a doideira do crack.
iG - Como foi a experiência de visitar a cracolândia?
Cauã Reymond - É uma experiência impressionante. A sensação que tive foi de que o usuário não é o senhor de si mesmo. Acho que a única pessoa sã, naquele lugar, é o traficante. O usuário vira um zumbi. Dorme ao lado de onde defeca. Eu também pesquisei o assunto em sites internacionais, mas o perfil é diferente do daqui. Nos Estados Unidos, o crack ficou em um setor muito restrito da sociedade. Quem usa ou é muito pobre ou conhece muito a droga e quer provar. No Brasil, o crack afetou tanto as camadas sociais mais baixas como as mais altas. Acho que é pela falta de informação e de ignorância do povo.

Foto: Robert Schwenk
Cauã Reymond posou para iG Gente em dois momentos: caracterizado como Danilo, seu personagem em "Passione", na Praia da Joatinga, e sem barba, em Itanhangá

iG - O que você faz após gravar as cenas mais pesadas do Danilo?
Cauã Reymond - Às vezes eu fico com insônia. Quando fazemos um personagem conturbado, é normal não dormir bem. Também tive isso quando fiz o filme “Se Nada mais der Certo”, de José Eduardo Belmonte. Tento tomar um banho de sal grosso e ver um filme.
iG - O que você acha da política de legalização das drogas?
Cauã Reymond - Acho que o Brasil não está preparado para legalizar. Falta estrutura. Temos ganhado batalhas contra a droga, como a tomada do Complexo do Alemão, no Rio. É uma vitória para a sociedade brasileira e para a carioca. Mas acho que para isso acontecer, temos que nos organizar melhor. Não adianta citar a Holanda como exemplo, é um país é tão pequeno, tão mais fácil de controlar as coisas. Enquanto não tivermos um preparo jurídico e a população não ter consciência do que está acontecendo, eu não sou a favor da legalização.
iG - Para fazer o Danilo, você deixou a barba e as unhas crescerem. Até aonde você iria para se adequar a um papel?
Cauã Reymond – Até agora, tudo que me pediram eu consegui fazer. Mas, depois da cirurgia que fiz no quadril, não vou poder engordar para um personagem. Meu médico me disse que eu tenho que ficar para sempre magro. Tinha lido um roteiro de um filme em que precisaria engordar, mas ele vetou. É uma limitação, né?
iG – Você, como tantos outros, começou na TV em "Malhação". O que acha que fez de diferente para estar agora na sua nona novela e ter feito dez filmes, enquanto outros tantos sumiram?
Cauã Reymond - Acho que eu não tive férias (risos)... Eu trabalho muito. Não posso falar pelos outros, mas me dedico 100% ao que faço. Na verdade, eu me orgulho das coisas que não fiz. Quando você fica famoso, você tem a possibilidade de fazer muita coisa com a sua vida. Tem propostas tentadoras, mas você tem que resistir. Não só no parâmetro profissional, no pessoal também. Acho que as escolhas que deixamos de fazer são muito importantes para a carreira.

Foto: Robert Schwenk
Ao visitar a cracolândia para compor Danilo: “A sensação que tive era que o usuário não é o senhor de si mesmo, vira um zumbi. Dorme ao lado de onde defeca"


iG - O que o cinema trouxe para sua carreira?
Cauã Reymond - Muita gente fala: “Ah! O Cauã só pensa em cinema”, mas foi uma coisa natural. Eu recebi bons convites e fiz filmes de que me orgulho muito. E cada filme foi levando a outro. Na época em que recebi bons convites para o teatro, já estava envolvido e comprometido com o mundo do cinema. Só fiz duas peças, em 2006. Tenho vontade de fazer mais teatro.

iG - Pensa em uma carreira internacional?
Cauã Reymond - Já recebi convites do exterior para entrar em algumas agências, mas achei que não estava preparado como ator. Além disso, queria me sedimentar no Brasil. Se eu estivesse em um filme que rompesse a barreira e fizesse sucesso lá fora, eu ficaria muito feliz. Mas, por enquanto, não pretendo ir lá para ficar batendo na porta das agências para conseguir um papel.

iG
- Com que você gostaria de trabalhar?
Cauã Reymond – O Tony Ramos. Eu queria fazer um filho, um neto ou alguém próximo do Tony Ramos. Gostaria de ver como ele trabalha, porque ele circula tanto na comédia quanto no drama, e tem credibilidade em todos os núcleos. O Tony consegue ter controle sobre o que está acontecendo e sobre o personagem. Eu tenho grande admiração por ele.
iG - No filme “Estamos Juntos”, de Toni Venturi você interpreta um DJ homossexual. Como foi protagonizar um beijo gay com o ator argentino Nazareno Casero?
Cauã Reymond - Foi na boa. Ele é bem resolvido e eu também. A única diferença é que ele tinha barba (risos). Sempre procuro personagens interessantes. Eu não amarelo para desafio. Acho que isso é coisa de lutador: se tem um obstáculo, bate um friozinho, mas eu encaro de frente. Vou em busca de preenchimento profissional e satisfação pessoal.

Foto: Robert Schwenk
Sobre o beijo gay no filme “Estamos Juntos”, em que interpreta um DJ homossexual: “Foi na boa. Ele é bem resolvido e eu também. A diferença é que ele tinha barba"

iG - Você é um cara avesso à badalações. O sucesso já te iludiu?
Cauã Reymond – Depois que entrei em “Malhação”, passei os quatro primeiros meses deslumbrado. A fama me seduziu um pouco, mas não muito. Ser um cara avesso a badalações é um traço da minha personalidade, não uma estratégia. Eu sempre fui assim. Por ter sido atleta por muitos anos, eu descobri o prazer em outras coisas. Não preciso estar na balada. Eu sou um cara que me envolvo, né? Tem muitos casais que saem juntos, acho que eu e a Grazi somos caseiros mesmo. É uma opção nossa.
iG - Você lê revistas e sites de fofoca?
Cauã Reymond - Eu gosto mais das fofocas internacionais (risos). Acho que é porque já conheço as nacionais e os colegas contam o que está acontecendo. Nas internacionais, confesso que dou uma olhada.
iG - O que você e a Grazi gostam de fazer? Tem algo que as pessoas não imaginam que vocês façam?
Cauã Reymond -
Nada diferente de qualquer casal normal. Ficar em casa, ver um filme. O que as pessoas não podem imaginar que a gente faça? Ah! Todo domingo, nós vamos à feira orgânica, comprar sucos, frutas, inhame (risos).

iG - Em entrevista, a Grazi falou que para sair do arroz com feijão, ela sempre procura acrescentar um tempero na relação. E você? Como faz para sair da rotina?
Cauã Reymond -
Todo casamento tem que ter isso, né? Eu já fiz bastante surpresas que deram certo. Acho importante manter a relação afetiva surpreendente. Já fiz viagens, dei presentes.

Foto: Robert Schwenk
"Já fui mais ciumento, mas agora não sou mais. Depois de um tempo, não é isso que dita uma relação. Estou bem tranqüilo..."


iG - Você se considera romântico?
Cauã Reymond -
Quando a gente é mais novo, é mais romântico. Por dentro todo mundo é, mas as ocasiões em que o romantismo vem à tona mudam. Quando estamos mais velhos, essas ocasiões se tornam mais objetivas.
iG - No episódio “A desinibida do Grajaú”, da série “As Cariocas”, Grazi mostrou a sua faceta ousada e sensual. Você é ciumento?
Cauã Reymond -
Não. Eu fiquei feliz com o resultado, gostei muito. Ela estava linda. Na verdade, o que é bonito é para se mostrar. Já fui mais ciumento, mas agora não sou mais. Depois de um tempo, não é isso que dita uma relação. Estou bem tranqüilo...

iG - O que você planeja para 2011?
Cauã Reymond -
Com certeza vou estar um pouco mais moreno, porque quero pegar um sol (risos). Em janeiro, finalmente, vamos tirar férias em algum lugar bem bacana. Tenho vontade de conhecer a África do Sul, país do Nelson Mandela.

iG - E profissionalmente? É verdade que você fará a próxima novela das 18h da TV Globo, “Pisa na Fulô”?
Cauã Reymond -
Está tudo encaminhado para isso. Acho que vai ser bem legal porque a novela tem uma proposta diferente, meio de fábula. E vai ser o meu primeiro protagonista. Deve ser um personagem mais suave, porque é um personagem da novela das 18h. Mas estou pronto para o desafio.

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